quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mortuária


Seguimos caminhando por entre tumbas modernas, sepulturas Formosas, lembrando-se dos velhos cadáveres que elas abrigam e de suas feridas letais, aspectos trágicos de suas memorias, contribuições significativas para seus atuais quadros degenerativos, palidez mórbida e estrutura esquelética. Tudo pelo qual foram diagnosticados mortos, para assim hoje possuírem tão belas moradias fúnebres.

É um belo passeio quando a carne esta morta e os olhos enterrados, não se pode odiar, não se pode discordar, às vezes é tão fácil perdoar. Tudo acerta um ponto depois da vida, e as regras básicas de uma visita a um ex-vivo são; deixar a animosidade de lado, trazer um sorriso na face, uma lagrima esporádica no olho e um enorme senso de conformismo imposto na testa. Dos mortos não colhemos a mentira, às vezes por ela morremos e muitos defuntos colhem confissões. É mais fácil admitir certas coisas quando não se está sendo ouvido; os mortos assumem um papel de consciência, de padres, de psicanalistas. Todos possuem luxos em vida, e na morte tudo não passa de promessas, o que de mais concreto e verdadeiro pode ocorrer é uma bela cerimonia, votos de saudosismo e lagrimas caindo ao chão. Uma pena, pois colhemos tanto em vida que penso que na concretização dela deveríamos ter algo mais solido e especifico. Dizem que a morte vem para nos levar. Da vida não se pode dizer o mesmo, ela não tem estes poderes supremos depois que morremos. Num estado tão especial e único de meditação me imagino rodeado de silencio e paz, sem e matéria severa, sem limites, sem relógio, sem termos, sem o “ ter” e o “querer” na essência primária do universo, deitado, numa nação de mortos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Barras de ouro( Pequena homenagem a Rubem Alves)

Pequena homenagem a Rubem Alves

Poucas vezes um escritor conseguiu tocar tanto a minha Alma como Rubem Alves. Lembro-me de certo dia na minha adolescência (não me recordo precisamente o ano, mas arrisco falar que tinha meus  17 ou 18 anos) de minha mãe chegar ao quarto com um punhado de livro nas mãos e joga-los na minha cama. Era de costume fazer isto, ela trabalhava duro fazendo faxina  em um apartamento de classe media no centro da cidade, sempre era presenteada por barras de ouro, que sua patroa erroneamente dispensava , e as doava, achando ser entulho na estante. Meus olhos brilhavam a cada livro ganho, e foram tantos escritores maravilhosos, tantos mundos eu desbravei nesta época, ah que nostalgia.
Um livro especificamente me chamou a atenção, era de um escritor, cronista, teólogo e psicanalista, chamava-se Rubem Alves.  Abri o tal livro e dia após dia refrescava meu espirito com aquelas palavras tão justas de esperança misericórdia e reflexão, é impressionante a carga de espiritualidade e regozijo  presentes em suas palavras, era um riacho doce e morno como nunca havia me banhado antes. Talvez a identificação de minha parte tenha se dado ao fato de minha formação protestante, uma vez que o autor tem muito da espiritualidade cristã em sua obra, mas o certo é que nunca mais fui o mesmo depois deste livro. "O Retorno e terno" era seu titulo.
Pulo aqui a parte de ficaria horas a finco citando inúmeras frases e trechos marcantes  dos livros deste escritor...levaria horas, dias...fazendo isso.
Para fechar, certo tempo depois na sala de aula do curso de letras, emprestei este livro para um amigo. Ele elogiou bastante. Lembro-me de esbravejar muito quando o  mesmo certo dia me fez uma das piores invejas  que já me fizeram, me contou que havia ido no shopping, numa sessão de autógrafos  de  nada mais, nada menos quem? Ele mesmo, Rubem Alves.  Eu não sei por que cargas d’água eu não estava sabendo disto.
Semanas depois este meu amigo largou a faculdade e mudou de cidade e eu nunca mais vi este exemplar. Aprendi muitas coisas com aquele livro, Sei que ele também. Adquiri outros títulos do mesmo autor, hoje fazem  parte de meu tesouro particular. Às vezes lembro  e dou risada, alguém também havia levado uma barra de ouro minha, mas uma coisa que me da conforto é pensar que livros são um tesouro não corrompível, pois mesmo sendo muito valiosos, as vezes  brigamos, não para tê-los e sim por ter a oportunidade de presenteá-los.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Das minhas Brasas



Não quero te ver chorar, ingrata
Quando meus olhos  em vinagre caírem espasmódicos
Diante um poço de larvas, vomito e urina
Nem na terra imoral, meu corpo putrefato
Em formol e alumínio
Cortado deixar de subsistir


Não quero te ver chorar, Tirana
Quando ver que o sol é cinza e a lua vermelha
E um lobisomem de gestos nefastos, gritar
"agonia, puta ingrata"
Não quero te ver assim, tão sínica no choro
Como aquele que fere o ego por falta de gozo
E na Promiscuidade anseia um bem maior


Amo-te como uma carne carente de tempero
Aquela que só se serve para alimento pobre
Não quero te ver chorar, não mais.
Mas a visão de minha pele na grelha
Ferverá teus olhos, e um consolo de paraíso
Descerá dos meus córneos
E seguirá minhas feridas até seu peito.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Socio-Apatia


Hoje acordei diferente
Alma lavada e escaldada
Num pântano de éter corrosivo
Lá se foi minha sensibilidade
E meu complexo de humanização 

Rompendo barreiras de empatias
Computava a antipatia típica de quem 
Mata sem remorso

Perdi-me na verborragia de pilhas enumeradas 
Sacos de carne grifados alfabeticamente
Pela anatomia humana

Chorava saudoso ao me emocionar com
O monstro adormecido que um afeto esquecido 
Deixava se levantar, Homeopático ao gargalhar
Com uma faca e um par de  luvas nas mãos 

NOITE SANTA ( sagrado coração)



-Quem é esta velha fútil a me observar?
Eu perguntava categoricamente.

-É a soturna noite, meu filho.
Minha madre rua acalmava-me
com olhos mansos
compadecida com a dor de um filho.


Meus fiapos de roupa já fediam
minha marmita azeda salgava-me a boca
só a solidão, está sim minha sabida escudeira,
Dizia-me que quem tem fé engana a vida, desfaça a sorte,
corrompe a morte da nata pobre
que nunca dormiu majestosa sem uma esmola

-Que frio é este Deus Meu
e sagrado coração da minha noite?


Ó noite efêmera e voraz santa
pelo que te peço, não cobro herança,
só esquenta o teu seio e envolve com esta manta, 
minha mulher tuberculosa e no seu colo minha criança...

TRIAKIZY

É nos mais curtos versos que sou singelo e intrépido
nas voluptuosas brasas que se enquadram
um mundo alegórico de brasas nada mornas 


na certeza de ser um todo
um pouco e um nada
no amor
de ser
um vento
que apaga a brasa
e acende a brasa


na singularidade das promessas
e dos amores
que promessas são promessas
amores são os dois
que morramos tentando nos tornar três.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

As vezes quando o segundo vira tudo




Certas vezes fatos isolados do nosso cotidiano nos aborrecem ao ponto daquele momento ser eterno.  Tantas vezes isso ocorre que chega a ser uma trivialidade da espécie. Naquele momento de raiva você mata, naquele de paixão ama como uma criança, no de altruísmo é o cristo, nas tentações o próprio diabo. Essas impulsividades nos tornam falhos porem às vezes ousados. O ser humano é ousado por natureza, uns mais outros menos, e tantas vezes nos pegamos pensando se o mar cabe dentro de um formigueiro, quando na verdade ele cabe direitinho nos nossos olhos, na nossa imaginação. Aliás! Os olhos são complicados, é um fato distinto, mas que vem a calhar neste nosso verborrágico esclarecimento das emoções humanas
Quantas vezes olhamos o que queremos ter e temos o que nem ao menos nos damos o trabalho de olhar? Somos complicados. Creio ser o tato os olhos da alma. Pegar! Apalpar! Acariciar. Ele desde o nascimento se mostra presente no colo de nossa mãe, mas os olhos este são controversos porem audaciosos, quantas vezes não pegamos com os olhos e vemos com as mãos?  Sentidos que se entrelaçam, emoções que se confundem,  amores de minuto, pensamentos de horas, lembranças de anos.  Tudo isso pode ser vivenciado, sentido no reles medíocre segundo. Às vezes ele é tão intenso. Ah quando se ama... Um segundo vira tudo quando o amor vira um mundo.

Inferno real

  Eu tive um presságio
sonhei com vampiros ancestrais,
que na calada da noite se fartavam, não de sangue,
mordiam pescoços , arrancavam
a carne e cuspiam pra cima

Sonhei com ruas infestadas de zumbis africanos
que batiam no peito e rejeitavam cérebros
abriam corpos trêmulos e roíam os ossos
e suas peles deixavam pros cachorros

lembro-me que nas florestas
pequeninas fadas se prostituiam por fama,
não podiam ser penetradas , apenas
lambiam, lambiam corpos e mais corpos
e banhavam-se com esperma...

ah! quantas alegorias atravessando o céu,
crianças com cabeças de sapo, jogando burquinha
com os proprios olhos, só gritos e gemidos,
no mundo não havia mais guerras,
só moléstias e feras,
o inferno à cada esquina,

Queria manter-me dormindo
e brincar de sodomita com os monstros medonhos
seria mais humano e edificante,
pois mais vale monstros sanguinolentos
que humanos genocidas,
irmão matando irmão...
  
lutar e trucidar nossa própria espécie 


A Mosca


A pele é fria, tons de roxo e de cinza se contrastam com vermelho sangue e áspero das feridas na fronte
a mosca ziguezagueia avistando do alto os olhos abertos e sem vida, e os ossos , os braços desconjuntados em direções opostas. As pernas estão duras, o corpo todo está duro.
Avista-se um fio de sangue que escorre da boca em direção ao pescoço. A boca semi-aberta com os dentes quebrados é aconchego para  as moscas depositarem seus ovos e proliferarem sua cria diante á carniça...
Os atentados contra nossas vidas são inevitáveis, e o som murmurante de um estupro é música serena para os lunáticos, sádicos e preservadores dos direitos das moscas varejeiras... Se há uma coisa que me rege é a irracionalidade espontânea agregada pelo gosto da morte e o beijo sem vida de virgens tombadas à foice na cama...
Uma serenata de dor e prazer, onde o clímax esperado é o retalho no abdômen, com um punhal a abrir sua barriga, enquanto a mosca cúmplice de todos os crimes agradece ao homem...

Critica/dica- fantasmas do seculo XX (Joe Hil)




O livro, trás contos de drama, suspense, ficção científica e terror! O primeiro conto, é sobre um editor de livros de terror, que infelizmente acaba vivendo o terror tão descrito nas suas leituras diárias.
Existe o conto do menino que é inflável, que se lido de forma "literal" nos remete a infância, porém o que mais conta são as entre-linhas desse conto, que mexe com o psicológico do leitor.
A "máscara do pai" é outro conto psicológico! Fala sobre o vida dos pais, que as vezes os filhos não conhecem. A rotina de um casal que parece convencional, mas na verdade não é.
Na maioria dos contos de Hill, os personagens principais são crianças, o que acaba deixando cada conto mais incrível.
"Ter um pai famoso pode trazer certas dificuldades para aquele que deseja seguir os passos paternos. Sempre haverá comparações, sem contar os comentários no estilo “fulano só conseguiu tudo isso porque o papai ajudou”. Enfim, não importa os méritos pessoais, sempre vai ter um escroto (que nunca fez nada na vida) para criticar. Justamente por isso, Joseph Hillstrom King, filho de Stephen King, preferiu adotar o pseudônio de Joe Hill ao escrever seus contos de horror, suspense e drama, que conseguiu publicar em diversos lugares sem que ninguém desconfiasse de sua real identidade. Aos poucos, a qualidade de seus trabalhos foi chamando a atenção dos leitores e da crítica, sendo que até ganhou alguns prêmios. Em 2005, lançou o livro de contos Fantasmas do Século XX, que ganhou os importantíssimos prêmios Bram Stoker e British Fantasy Award. Dois anos depois, publicou seu primeiro romance, A Estrada da Noite, em uma tiragem maior. Já consagrado como um escritor de respeito (e livre da sombra do pai famoso), Joe Hill pôde enfim revelar sua verdadeira identidade."

Seu estilo é muito diferente do velho King. Não é melhor, mas é diferente, mais sutil e com uma ironia quase britânica. Elementos sobrenaturais se misturam com citações sobre filmes e livros de horror, tornando a leitura prazerosa para os fanáticos pelo gênero. Algumas vezes, o escritor prefere investir mais no drama e nos relacionamentos dos personagens do que no horror propriamente dito, o que pode desagradar os leitores que estão interessados apenas em sentir calafrios. Mesmo assim, alguns dos seus contos são tão bem feitos que conseguem alcançar o status de obras-primas do medo, subvertendo clichês ou abordando o terror de uma maneira diferenciada. Resumindo, é um horror de classe.
Vale bem esta dica para os amantes do Fantastico e literatura sobrenatural...(destaque para o conto "pop art" que na minha humilde opnião e até mesmo de escritores consagrados, é o conto da decada...surreal , meigo e fantástico.)

Teoria da derrota



De misericórdia são alimentados os vencidos
Pois pra cada pena que carregamos é mais um olho carcomido
Que nos fita, nos vaza e se alegra por sua vida supostamente inversa.
Não é insensato alguém perder, isso é padrão para o outro ganhar. Nesta troca de papeis nos alegramos inconscientemente por vezes com derrotas alheias, disfarçando nossa apreensão em altruísmo, quando na verdade faz parte de círculos e vícios sem os quais cada individuo não viveria apenas manter-se-ia vivo.

Degustação



Quero espremer seu coração e fazer um suco
Tirar seus saltos e  fazer canapés
Das tuas pegadas esperar bons pratos
Em cada risada um molho-mulher

Quero entortar a curva da tua cintura
Do lado oposto da conjectura
Tirar suas falhas pelo colo
Colar suas fases em meus olhos

Quero  depressa, correndo apressado
Vivendo  morrendo e amando
Da vida colher teus cachos
De ti comer bons anos.

A Pintora

A PINTORA

"Ele te salvará! " Enfim foi o que li
sujo e fosco, na porta de um bar.
as vezes as crianças pintam chifres,
na cabeça de Deuses nórdicos
ilustrando as paredes da vila 

pintam,
desenham e sonham...
crescem e desfiguram seus cenhos 

Uma estrada de traços tortos
é formada e percorrida com
tintas e papeis antigos...

são gravuras usadas de forma errada
com giz de cera adulterado, velho e gasto.
Mais rabiscos, cores e bolhas.

é uma tragédia
esta que se segue
embaixo de nossos pés( enterrado)

quando os olhos mais bonitos
tão poucos parecem vivos,
 e desfigurados, não olham para o sol.

RIO TINTO

Rio Tinto

Penso numa cidade e num rio que flui por ela. Nas suas ruas em fluxo continuo
Na cor das pedras e dos lagos e nas pétalas vermelhas caindo das arvores, colorindo as aguas.
Onde se banhar se as aguas ficam rubras?
Rubro é o sangue, a paixão, a vida.
Letras são como agua que flui, escorre e se modela tomando a forma de seu recipiente em palavras...
Cada escritor e responsável pela forma de suas palavras, pela cor de seus textos, pelo nado em seu rio, pela paixão e pela vida. Todos andam, constroem e se mudam para suas cidades e o fluxo que antes citei difere em cada um. Penso em minha vontade e necessidade, e não seria egoísmo deixar de mão as casas para me banhar no rio, pois o rio lava e leva , mata e colore, vida banhando vida, Pintando vida. Cascata revigorante. Vermelho como as pétalas Rio tinto de palavras eu sou.