sábado, 27 de janeiro de 2018

Desenterrado





peguei para mim só defeitos
segui na rasura das coisas
viajei  pelo amor
quis enganar a própria dor
fui bem vasto 
sem você do meu lado

perdi muitas chances constantes
comi, das vasilhas as flores
errei por vocação
maltratei vil corações
fui errado sem você do meu lado

eu conquistei uma febre eterna
desenterrei mil sapos no quintal
odiei as musicas belas
quis entender sua emoções
fiz o previsível," sim e não"
entreguei-me à ilusões
fui julgado
sem você do meu lado

sábado, 1 de junho de 2013

Depois da noite



Me perdi em tuas piras
em tuas pernas e unhas
rasgado em quatro
e soldados em dois

não tua voz me enxerguei
descrevível em musicas
carregado em planos
tão desconexos
quanto o bem que é amar

usando escudo de concreto
pergunto para o momento:
Por que será que vejo teus olhos,
lembrando do beijo antes do sexo?

terça-feira, 14 de maio de 2013

Das despedidas do demônio




sou um monstro devorador de almas

comendo as pessoas em meu caminho

elas se vão parecendo corpo

vazias, amarguradas sem ninho


sou uma pedra esmagando um gato

que o deixa sangrar e se contorcer

carne podre que emerge

pedra suja que se vê


ando com as pernas alheias

dentro, fora, em cima , em baixo

pulso com vários corações

sou dois goles e um trago


não sei o que vou ser

de quem vou depender

só sei que quando se vão

parte e mim se dói

a outra parte não crê


todos acabam me tendo

pedacinho cortado e moído

e me levam em pedaços

depois sozinho na noite

tudo se vai ,nunca mais abraços

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Filosofando decepções amistosas




“Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga.”
(Denis Diderot)

Vejo nas amizades muitas coisas, muitos "tudos" ,muitos nadas, menos amizade...o mesmo no amor. Temos de tudo só se falta amar ...geralmente as coisas são assim mesmo, colocamos a carroça na frente dos bois . Certa vez alguém me disse que odiava tanto, mas tanto, que chegava a tremer. Confesso que senti uma leve e sádica inveja, afinal,  todo sentimento acaba sendo justo dependendo do ponto de vista. Mais vale um ódio bem sentido,que uma caridade mau focada, que um nada na alma....sentir nada é a ausência das emoções.É nos tornar ocos , como imagens de barro preenchidas com a fé de fieis , depositando milagres em seu interior úmido.
Sinceramente não consigo ver mais valores a serem ressaltados nas amizades. Para mim são fachadas,” como espantalhos num pepinal” mudas e aparentemente uteis. Como dizia o velho Oscar “ hoje em dia o homem sabe o preço de tudo e o valor de nada” acho que fidelidade, cumplicidade e companheirismo se perderam num passado tão distante como obsoleto, nos tornando obtusos, calculistas, frios e oportunistas. Somos nossos próprios deuses e amigos de nossa arrogância acima de tudo. Amigo de verdade é aquele que se perde nas sombras de um abraço com os olhos arrancados pra te dar visão. Não que eu ache tudo isso uma grande perda de tempo e pregue a superficialidade das relações... há exceções, deve-se haver por ai. mas o ultimo grande ato amistoso que  vi  foi numa cruz que nem ao menos sei se ergueu- se de verdade.Há muito tempo. “ não há amor maior que da a vida pela dos amigos” já dizia jesus.

Eu cansei sinceramente  de devaneios e filosofices..de falsidades sobre o tema. Só deixo um aforismo de ultima analise para os pseudo -amigos. Reduzam-se a insignificância de sua presença  enchendo seu saco de credibilidades.
(Y D Myers)

“É pecado pensar mal dos outros, mas raramente é engano.”
“H. L. Mencken”

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Um pedacinho de ontem




um pedacinho de céu
 desceu e me beijou no ombro
me aqueceu, me  consumiu
um pedacinho de anjo
amputado,  me  iluminou
com sangue, poder e amor
um pedacinho do passado
tão claro e atual, presente
do presente que se foi
um pedacinho de ontem
guardei em mim

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Branca como a Paixão ( Um conto sobre o Amor)






- Ai que maravilha!  Há tanto amor e tantos suspiros nestes corpos brancos.

Era assim que David os observava todos os dias nas alvas matas, naqueles campos floridos onde se refugiava dos demônios colossais por quais tanto ele era açoitado, a constatação do amor em sua essência mais concreta, o que ele acreditava ser, e personificava em seu intimo como o sentimento supremo: “AMOR” nada mais que o amor. A exemplificação daquilo que tinha como o verdadeiro amor.
Era árdua sua semana, trabalhava exaustivamente doze horas por dia. Morava só há quatro anos e meio, desde que sua família inteira havia morrido num desastre de avião a caminho de João pessoa.  Negócios familiares os obrigaram a partir numa viajem que os conduziriam de encontro à morte. Negócios estes lucrativos, mas não o bastante que comprassem o beneficio da respiração.
Desde o acidente, iniciou-se uma guerra burocrática sem parâmetros onde certas promessas de indenização culminaram numa espera desgastante e financeira  para David, espera que quase o  tragou para um buraco de degradação pessoal e profissional.
-Sarah me ama, muito. Daria a vida por mim e eu por ela. Ela me ama quando não estou vendo. Ela é verdadeira. O meu amor que há cinco anos me apoia, mesmo depois de tantas brigas – era assim que David se referia à mulher que tanto o aguentou e o amou. O baque fora tamanho, que o coitado havia tentado se enforcar com a cinta, por sorte o caibro da casa quebrou. Sorte ou azar? Pois a realidade de ver Sarah de mãos dadas com o advogado que cuidou do caso de sua família era tão estarrecedor quanto qualquer suspiro de realidade. Parecia que um erro mecânico não só apenas havia colocado um fim em sua família, mas também em seu coração. O erro da maquina carnal, aquela que destrói impérios; cria e destrói deuses, e eras.
-Aconteceu, foi espontâneo e sem pretensão de magoar. Perdoa-me - Sarah implorava com olhos falsos. Mas caia por terra qualquer expectativa de perdão.
Era semana após semana, 12 horas de intenso empenho. A cabeça rodopiando e uma infinidade de problemas pessoais que não caberiam em dez paginas se os mesmos fossem citados. Aquele serviço de Porteiro só intensificava seus pensamentos. Mas exatamente há nove semanas ao cortar caminho, na volta, entrando por traz da chácara do Genilson, temendo pegar uma rua alagada, depois de um temporal, foi que veio seu primeiro deslumbre.
 O condomínio onde trabalhava ficava próximo a uma zona rural, e se encontrava a menos de Cinco quilômetros de sua casa. Com os temporais dos últimos dias, o trajeto feito pelo ônibus era quase que sempre alagado, o obrigando a descer do ônibus, voltar e pegar outra condução que acrescentaria uma hora a mais em seu percurso de volta. Mas desta vez ele não havia arriscado, decidiu cortar por traz da chácara do Genilson, chácara que ficava a poucas quadras do condomínio. Esta nova rota o conduziria por um bosque e reduziria seu caminho em até 40 minutos, isso a pé.
David caminhou, bastante, era jovem, 26 anos, tinha um bom físico. Passou por arvores frondosas, tocas de coelho, micos e capivaras. O bosque era assim, lindo, inteiro florido; com rosas, mangueiras, pássaros cantando; uma áurea tão positiva que era impossível não enxergar os raios solares invadindo por frestas e iluminando o solo, as folhagens e os cogumelos, e não sorrir. Seu cheiro lembrava uma infância esquecida, proveitosa nos pés de carambolas de sua madrinha.  David amava e odiava aquelas lembranças, talvez por parecerem longínquas demais, quase que inexistentes, às vezes chegava a duvidar de suas veracidades.
O Bosque era assim. Tão bonito quanto qualquer uma destas fábulas infantis.  Lindo, lindo e ameno.
O que era um improviso virou um habito, e todos os dias mesmo com sol, David cortava pelo bosque e andava admirando e respirando aquela beleza inefável.  Mas desde o primeiro dia ele observava ao longe num tronco cortado aquele albino casal. Os dois amantes  sempre se beijavam, e David observava por alguns minutos, todos os dias a mesma coisa, no mesmo horário: Casal coladinho se beijando ardentemente, nem sequer respiravam de tanta concentração. Um abraço de infinito e um carinho paralisado no tempo.
- Ai que maravilha, há tanto amor e tantos suspiros nestes corpos brancos- ele pensava, dizia e por muitas vezes quase gritava. Aquilo se tornara o ápice das sensações. O carinho esquecido, a promessa não cumprida  -Sara desmembrada e cuspida.  Aquilo havia se tornado a tradução do seu sentimento para com o amor, a mais alta e fiel personificação da sua alma; da dureza dos últimos anos, das suas desilusões e esperanças. O deixava imóvel, intacto e pasmo, com um sorriso quase empalhado em seu rosto...
Aquilo era para David o Amor. Teria sorte se durasse mais uma semana sem que alguém viesse buscar aquele apaixonado casal. Naquele lixão que começara no centro do bosque há nove semanas, Sempre que o caminhão despejava algo proveitoso, era questão de Dias para algum catador resgatar. Ainda mais uma escultura em gesso tão magnifica e quase em perfeito estado. Mas ela ainda estava ali, tão imóvel quanto ele, fria e branca, e ele arriscaria mais um dia pelo bosque com a mesma apaixonada esperança de poder vislumbra-los mais uma vez. O coração batendo forte e o sorriso amarelo fixado na orbita de seu engano.

(Y D M )

Alem do Vulto




vi o sangue  quente da ferida
empossado na vala suja do chão
lembrei-me da fome e da sede
mas quem morre não dorme
vive de alegria e imensidão


os mortos vivem calmos
guardando os feriados
sem rancor, dor ou amor

são cachos em sacos plásticos
emadeirados  em templos edificantes
preguiçosos , despretensiosos e pronto
 sem merdas empilhadas na estante

os vivos são algozes
diferem dos mortos
que não sabem o que é padecer
vivem abrindo os olhos
sem saber a quem matar,
de tanto amar ,por quem morrer.

(Yzzy Daniel Myers)