quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mortuária


Seguimos caminhando por entre tumbas modernas, sepulturas Formosas, lembrando-se dos velhos cadáveres que elas abrigam e de suas feridas letais, aspectos trágicos de suas memorias, contribuições significativas para seus atuais quadros degenerativos, palidez mórbida e estrutura esquelética. Tudo pelo qual foram diagnosticados mortos, para assim hoje possuírem tão belas moradias fúnebres.

É um belo passeio quando a carne esta morta e os olhos enterrados, não se pode odiar, não se pode discordar, às vezes é tão fácil perdoar. Tudo acerta um ponto depois da vida, e as regras básicas de uma visita a um ex-vivo são; deixar a animosidade de lado, trazer um sorriso na face, uma lagrima esporádica no olho e um enorme senso de conformismo imposto na testa. Dos mortos não colhemos a mentira, às vezes por ela morremos e muitos defuntos colhem confissões. É mais fácil admitir certas coisas quando não se está sendo ouvido; os mortos assumem um papel de consciência, de padres, de psicanalistas. Todos possuem luxos em vida, e na morte tudo não passa de promessas, o que de mais concreto e verdadeiro pode ocorrer é uma bela cerimonia, votos de saudosismo e lagrimas caindo ao chão. Uma pena, pois colhemos tanto em vida que penso que na concretização dela deveríamos ter algo mais solido e especifico. Dizem que a morte vem para nos levar. Da vida não se pode dizer o mesmo, ela não tem estes poderes supremos depois que morremos. Num estado tão especial e único de meditação me imagino rodeado de silencio e paz, sem e matéria severa, sem limites, sem relógio, sem termos, sem o “ ter” e o “querer” na essência primária do universo, deitado, numa nação de mortos.

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